sábado, 26 de março de 2011

Teatro by Scentless

Palco vazio, de faces opostas,
Treinado para ser o que não mais se é,
Madeira que guarda recordações vazias,
Cortinas que roçam num triste sussuro,
Fantasma aparece e aguarda de pé.

Numa nébula de fumo brilhante,
Guardando os segredos para depois,
Treinam-se os olhos, emprestam-se caras,
Fazem-se cores, esquece-se o céu,
Beijam-se lábios em conjuntos de dois,

Num toque frio e impessoal,
Passa-se a esperança e o calor,
Num mundo morto, nada é real,
Tudo é mecanizado e torto,
Mas isto é verdadeiro, isso é amor…

Faça-se luz sobre as nossas cabeças!
Sussurros de espanto e baixa-se o muro,
Cessa o murmúrio, entra a ausência
E contrói-se um império de tudo!
(Guardem a luz, acaba sempre escuro…)

Num treino ardente e sóbrio
De auras redondas e artificiais,
Matamo-nos todos e vimos das cinzas,
Amamos o que seria evidente e irreal
Numa vida cheia e perfeita demais,

Pintam-se cores nas íris de alguém,
À medida que as mãos se tornam famintas,
Nunca o falso soube tão autêntico!
O êxtase entra numa explosão de cor,
Vem-me a alegria, bebem-se as tintas!

Passa o som e volta o sussurro,
Fabrica-se o corpo de volta, sedento,
Voltou o escuro (previsto e esperado),
Alguém morreu para ficar desse lado?
O resto segue e torna-se cinzento…


Mas calem-se!
Vai começar outra vez!

Ouve-se a música que soa repetida,
Ensaia-se o beijo na prevista entrada,
Silêncio no negro, comido de vida,
Abrem-se as cortinas vermelhas de cetim…
E revela-se o palco, cheio de nada!

Sem comentários:

Enviar um comentário