No pátio enfeitado de fumo,
Alguém passa com desconfiança,
Seu nome perdeu-se no tempo,
Nessa altura ainda uma criança,
De cabelo rapado por protesto,
Com corpo que há muito não crescia,
Olhos de um azul profundo,
Mas por detrás algo morria,
Insultos gritados das varandas,
Por ser pobre em bairro abastado,
Com veneno selado na boca,
E consciência de ser filho não desejado,
Encontrou o repouso na ponta do cigarro,
Encontrou a esperança no açúcar de rua,
Por viver sem vontade já não se preocupava,
Pois a vida que vivia já não era a sua,
E passeando sem desejar por entre o gozo,
E aos gozões esticando o dedo,
A resposta sempre pronta e igual,
“De filhos da puta nunca tive eu medo”,
E pouco a pouco encontrou a salvação,
Nesse óasis resplandescente que é a loucura,
Pois se o veneno é a tentação,
Então ele tinha encontrado a cura,
Fechado para sempre nessa concha,
Acalmado pela sua consciência,
Para nunca mais despertar desse sono,
Desse turpor causado pela demência,
Até ao dia em que o sol brilhou mais forte,
E a sua vida ganhou mais cor,
Encontrou-a por entre a multidão,
E impaciente, colheu-lhe uma flor,
Aceitando-a, nele acendeu a luz,
Mas curta foi a sua duração,
A flor foi atirada ao chão e espezinhada,
E assim foi também o seu coração,
Sentindo-se traído, chorando lágrimas amargas,
Se ninguém no mundo o aceitasse,
E se tudo o que ele queria era um abraço,
Então a morte que o abraçasse,
Colhendo o frio da lâmina áspera,
Um rosto desconhecido para sempre desapareceu,
Rejeitado pelo mundo, agora e para sempre,
Por desdém viveu, e por amor morreu…
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