quarta-feira, 15 de junho de 2011

Flor de papel by Scentless

Fruto de uma existência impedida
Por cortinas de fumo que se erguem de pé,
Enrolam em si esperanças sentidas
E expressam o desalento que já não o é.

Numa dor carregada de pétalas dormentes
E explosivas numa cor alegre e sem fim,
Qualquer que fosse o dia da minha morte,
Colheria uma rosa de vontade do fim,

Como uma gota de nada numa chuva agressiva,
Em raiva moldada a partir de um só sentido,
Ardem-me os olhos de fixar a alma nociva
Que se esconde no coração das gotas de vidro,

Destroem-me as forças, mas algo alimentam,
Dobrada pela mão de um arquitecto qualquer,
Brilham em papel forjado, pétalas que mal se aguentam
Desta violeta-rosa-tulipa-malmequer,

Que da indecisão nasceu, malfeita,
A braços com uma missão envenenada,
A de equiparar-se a uma beleza perfeita,
Se não me roubar os olhos, está condenada…

Agitando-se ao vento como se fora real,
Colhida no teste que marca a certeza,
Substitui a palavra que nunca soa igual
E transmite o pesado sentimento de leveza…

Da incoerência regular passou o sentido,
Do nada que se faz, seja o que for,
Beijando o vento que se faz de perdido
Numa promessa que é medo, num toque de uma flor…

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A despedida by Scentless

A parte mais difícil em dizer olá é dizer adeus,
Passando por uma vida na tentativa de evitar a tristeza,
De perecer no sono de forma a não sentir qualquer dor,
Acabamos por nos tornar vítimas infames do nosso próprio medo do sofrimento!

Porque medo da dor é não viver,
É ser indefeso e proteger-se a si mesmo,
Solidão não combina com segurança
Não ter medo não é morrer,
É não ter medo de o fazer!

Preenchidas as vidas em redor de uma só página,
Fecha-se um ciclo para sempre guardado,
De cores diferentes escapam as tintas dos finais
Que se definiram e escreveram pela mão do Poeta
Que juntou tantas formigas e as fez amarem-se,
Odiarem-se, sorrirem, chorarem,
Em suma, viverem uma vida curta, mas longa demais,
Em que o momento que mais pesa é o que sabemos que chega,
O que por vezes mais desejamos,
Aquele que nunca recordamos, mas que por força nunca esquecemos,

A despedida…

O último toque de pele contra pele,
As palavras dirigidas em secretismo perante
Uma audiência que as bebe e as devora,
Como se de últimas se tratassem, pois são na verdade as últimas…

Após a recordação magoada
Das escolhas que ditaram caminhos fendidos,
Seguindo o desespero do inevitável fim,
Podemos olhar em redor e sorrir,
Está tudo chorado, nada ficará esquecido,
Amámos quem amamos, sobrevivemos ao tempo,

Sorrimos, porque no meio da tristeza
Existirá sempre luz, existirá sempre toque,
As cortinas não se fecham a menos que nós ditemos o seu fim,

E agora, finalmente, acompanhado por um último suspiro,
Digo, regalado, que vivi uma boa vida, virando a página
A cor ainda é branca, mas marcada por linhas que nunca desaparecerão,
Entrámos nesta história indefesos,
Saímos dela Homens…